Vizinhos à Janela: Movimento ganha prémio Solidariedade Civil do CESE

Movimento

O Movimento ”Vizinhos à Janela”, criado por um grupo de moradores do Bairro do Jardim dos Arcos, em Oeiras, recebeu o prémio Solidariedade Civil do Comité Económico e Social Europeu (CESE) na categoria ofertas culturais.

Segundo o CESE, este movimento “constitui um exemplo brilhante de notável responsabilidade cívica e solidariedade durante a crise da Covid-19”.

O mesmo organismo adianta ainda que “pela força agregadora da sua música, ajudou a transformar um simples bairro numa verdadeira comunidade de entreajuda”.

A entrega deste prémio (10 mil euros) e de outros 22 em outras categorias decorreu recentemente de forma virtual.

O mentor do projecto é o catalão Iñigo Hurtado, de 50 anos de idade, que vive há mais de 20 anos em Oeiras.

Fui alertado por uma vizinha que tem um sobrinho que trabalha na União Europeia e falou-lhe do prémio; então, li o regulamento, vi que batia tudo certo, apresentei a candidatura, mas nunca pensei que poderíamos ganhar; eu sou o mentor, mas há muita gente a trabalhar neste movimento que atualmente recolhe cerca de 300 a 400 quilos de alimentos por semana para ajudar pessoas mais carenciadas”.

Iñigo acrescenta ainda que “isto começou com uma brincadeira no confinamento de março de 2020, quando duas vezes por dia íamos para a janela cantar e bater palmas; depois em finais de março, princípios de abril a junta de freguesia contactou-nos no sentido de saber se poderíamos angariar alimentos para pessoas mais necessitadas; falei com a junta, fiquei sensibilizado com o projecto e aqui no bairro foi só uma questão de nos organizarmos em vários prédios; atualmente ajudamos várias associações que trabalham com grupos vulneráveis e temos a ajuda de muitas empresas, mercearias e restaurantes, ou seja, isto tornou-se um movimento social sério”.

Este prémio é um reconhecimento e uma enorme satisfação, mas é sobretudo importante pelas portas que vai permitir abrir para ajudar mais pessoas; obviamente que o dinheiro vai ser na grande maioria canalizado para ajudar associações; às vezes parecia que o nosso movimento ia morrer, mas isto agora é um novo empurrão para continuarmos”, realçou o mentor do projecto.

Iñigo terminou dizendo qual será o destino do dinheiro do prémio:

Para além de ajudarmos as instituições, também temos um sonho que é organizar aqui no bairro uma grande festa quando tudo isto acabar; não sei se será este ano ou em 2022… a ideia é fazer uma paelha para 300 pessoas e podermos todos confraternizar juntos à mesma mesa e não apenas à janela; serei eu a cozinhar, mas vou precisar de ajuda”.

Como referimos anteriormente, tudo começou em março de 2020, inspirados em movimentos idênticos que apareciam em Espanha e Itália.

Durante 10 minutos, em 2 momentos do dia (às 14h00 e às 20h00), os vizinhos juntavam-se à janela para descomprimir.

Como não havia programa certo, por vezes cantava-se o hino, batia-se palmas, cantava-se temas de canções portuguesas muito famosas (como o ”Maria Albertina” ou o “Menina Estás à Janela”), batia-se tachos e panelas como se costuma fazer no Ano Novo, agitar bandeiras, valia de tudo para descomprimir e “esquecer” a Covid-19 por breves momentos.

À medida que o tempo ia passando, o movimento ia tendo mais adeptos, expressão e organização, e foi até criado um grupo de WhatsApp onde os vizinhos começaram a falar e a combinar programas entre si.

Foi através desta troca de ideias que passou a haver concertos de violino, gentilmente oferecidos pela professora de música Ana Freitas.

A originalidade atraiu a comunicação social, que começou a fazer diretos do bairro, e até atravessou fronteiras, já que num dia a TVE noticiou o acontecimento.

O divertimento passou a ser uma homenagem aos profissionais da linha da frente (médicos, polícias, bombeiros e lixeiros) e no princípio de abril de 2020 criou-se um movimento para ajudar as pessoas mais carenciadas, em parceria com a União de Freguesias de Oeiras e São Julião da Barra, Paço de Arcos e Caxias e as associações Sol Fraterno, Casa da Criança de Tires e a Família Solidária de Oeiras.

Acabamos este artigo, com um “aviso” de Iñigo:

“Ainda no passado fim-de-semana estivemos à janela; pedi uma licença para poder fazer ruído à noite e agora vamos uns quantos para as janelas duas vezes por dia, mas só às Sextas, Sábados e Domingos; mesmo assim não podemos deixar morrer esta união, pois começámos numa rua e agora já vamos em cinco”.

João Miguel Pereira