Tercena: A localidade construída pela pólvora

Mercado de Tercena

Situada entre as vilas de Barcarena e Massamá (esta última pertencente ao concelho de Sintra), a vila de Tercena tem para oferecer mais do que aquilo que se possa imaginar à primeira vista.

Um dos pontos centrais da localidade é, sem dúvida, o renovado Mercado de Tercena, que outrora foi ocupado por pequenos lojistas, mas hoje em dia tem uma grande superfície comercial, um ginásio, uma papelaria e o cabeleireiro Beauty Studio, gerido pela D. Soraia Proença.

Do outro lado da rua, existe então o pequeno comércio que estava alojado no Mercado, como o Talho Zé Manel, propriedade do Sr. José Manuel, e a Loja Café, que como o nome indica é um estabelecimento que faz o serviço de café/pastelaria, gerido pelo Sr. Hugo Gonçalves.

Indubitavelmente, que esta é a zona mais movimentada da localidade, embora a vila tenha outros polos de interesse como a Associação Cultural de Tercena, o Centro de Dia, o Grupo Recreativo de Tercena (que tem um pequeno polidesportivo inaugurado em 2002), um parque infantil situado perto do Mercado e a EB Santo António de Tercena.

Enquanto a nossa reportagem fazia o reconhecimento técnico para a elaboração deste artigo, saltou-nos à vista a inscrição de uma vivenda, onde se podia ler a palavra “Torcena”.

Não, não se trata de nenhum erro, é mesmo assim “Torcena”, que foi o nome da localidade entre 1838 até 1930.

No entanto, a origem da toponímia da localidade é bem antiga e data de 1260, onde a região era conhecida como a “herdade dos homens de Torgena”.

Torgena é uma palavra de influência árabe que significa “arsenal”, ou seja, um local onde se fabricava armas reais, primeiro, espadas e a partir de 1540, pólvora.

Para quem conhece esta região, a palavra pólvora remete-nos imediatamente para a Fábrica da Pólvora, que se situa à entrada da localidade de Barcarena.

Apear de não haver provas, crê-se que Tercena (o nome foi “cunhado” assim em 1930 por Joaquim Cabral, vereador da CMO na altura) tenha sido construída para albergar os trabalhadores da Fábrica da Pólvora, que assim não se teriam de deslocar de muito longe, numa altura em que não havia automóveis e muito menos, transportes públicos.

Hoje já não se fabrica pólvora nas instalações da referida fábrica, tendo esta sido transformada numa atracção turística e também onde se realizam vários eventos culturais.

À entrada, depois de um cartaz colocado estrategicamente na entrada a dar-nos as boas-vindas,  existe um enorme relógio de sol, com um ponteiro gigante a apontar para o céu, instalado na Praça do Sol.

Ao longo de vários hectares de terreno encontramos vários monumentos interessantes, como o Pátio de Santa Bárbara, a Fábrica de Baixo, a Galeria das Azenhas, o Jardim das Oliveiras, o Pátio do Enxugo, um grande anfiteatro a céu aberto cheio de repuxos, a Ponte dos Carris (onde por baixo corre a Ribeira de Barcarena), a Ponte da Fonte Caiada, as antigas Oficinas a Vapor, um Parque Infantil, uma fonte, vários azulejos, jardins e caminhos mais ou menos cuidados no meio de uma extensa área onde o verde (natureza) reina a seu belo prazer.

De facto, trata-se de um verdadeiro monumento de interesse público e turístico, que se crê tenha sido a origem da vila de Tercena, situada um pouco mais a norte, na fronteira entre os concelhos vizinhos de Oeiras e Sintra.

O que à primeira vista parece tratar-se de uma pequena vila perdida na fronteira de localidades como Barcarena, Massamá e Queluz, torna-se numa caixinha de surpresas quando se começa a percorrer as suas ruas.

João Miguel Pereira