Academia de futebol feminino de Oeiras

Academia de futebol feminino de Oeiras

A Academia de futebol feminino de Oeiras foi fundada em 2019 e “trabalha” em parceria com O Clube Desportivo Juventude União de Vila Fria. Tudo começou quando Manuel Antunes e Ana Teixeira foram viver para Vila Fria e pelo facto de terem, já há muitos anos, fortes ligações com o mundo desportivo e em particular, o futebol, viram uma oportunidade de se criar uma academia de futebol feminino. Na altura não havia oferta de futebol feminino no Concelho de Oeiras e para Ana Teixeira, fundadora da Academia, não fazia sentido um Concelho tão dinamizado não ter qualquer tipo de projeto nesse sentido.

“Acreditamos que também faz falta ao futebol que existam mais Mulheres a fazer parte do processo”

Ana Teixeira iniciou academia de futebol feminino de Oeiras praticamente sozinha, tinha apenas o apoio do clube Juventude União de Vila Fria que lhe cedia o campo para que a equipa feminina conseguisse treinar. Começou com 12 meninas, em 2019, mas depois apanharam pela frente um adversário com quem não contavam e os dois anos seguintes, devido ao Covid, foram difíceis. Apesar das adversidades e dos dois anos iniciais terem sido atípicos, o projeto não parou e desde 2022 têm tido um crescimento muito rápido e consistente – contam já com cerca de 200 atletas, entre meninas e mulheres, a jogar futebol.

O trabalho que tem desenvolvido foca-se essencialmente em dar as melhores condições às atletas para que continuem a receber novas jovens com vontade de praticar futebol e, dessa forma, dividi-las por idades, níveis de desenvolvimento e gerar contextos adequados para o crescimento das mesmas.

Com idades compreendidas entre os 6 e os 40, o clube oferece não só uma representação competitiva como também uma vertente mais lúdica e divertida associada à prática desportiva. “A nossa missão quando criamos este espaço foi permitir que as jovens de qualquer idade ou o nível pudessem iniciar a prática desportiva no futebol – neste momento temos para todas as idades, não só aqui em Vila fria como tambémem Carnaxide, onde temos um campo e onde pomos em prática o mesmo projeto de iniciação – já temos por lá cerca de 20 meninas.”, afirma Manuel Antunes, coordenador da academia.

Entre os objetivos da academia, e muito com o apoio dos pais das atletas, um dos principais é a prática de valores que estão associados ao desporto como o fair play, a entreajuda e a resiliência. O desporto é fundamental no desenvolvimento de qualquer atleta, a lidar com frustrações, por exemplo, e a academia centra-se muito nesse aspeto “passar valores porque sabemos quemuitas delas não vão ser jogadoras profissionais, mas nós queremos essencialmente formá-las como meninas e Mulheres com valores adequados e também associados à prática desportiva”.

Atualmente o clube tem 7 escalões (Sub.6, 10, 13, 15, 17, 19 e Séniores), sendo que a equipa de Séniores se divide em duas, uma que compete e outra com a vertente mais lúdica e sem competição. Todos os escalões treinam 3 vezes por semana no campo do “Vila fria”.

Apesar de ser uma academia e devido ao crescimento repentino, o “clube” já não se centra só na formação. “Começámos a ter resultados incríveis em relativamente pouco tempo, o ano passado fomos campeões distritais de sub 13. Este ano estamos, outra vez, em primeiro lugar nassub 13. Temos ainda as Sub 15 na fase de apuramento de campeão e as Sub 17, Sub 19 e Séniores a competir nos campeonatos distritais e nacionais”, constatou o coordenador. Ao longo desta época tiveram ainda jogadoras que foram chamadas á seleção distrital em dois escalões diferentes.

Os escalões de Sub.19 e Seniores foram uma novidade na academia esta época, apesar da dificuldade muitas vezes sentida na disputa dos jogos, o querer e a vontade das jogadoras fizeram antecipar um escalão que não era “ainda” uma realidade. Na 3 divisão Nacional, a equipa Sénior dá luta em todos os jogos e foca-se num crescimento mais gradual – como diz o coordenador, “isto nunca foi um projeto para amanhã é um projeto a médio longo prazo e aí temos correspondido às expectativas.”

A equipa técnica conta já com 10 treinadores das quais 9 são mulheres, a academia mostra que é também uma preocupação ter pelo menos uma mulher por equipa técnica –“porque faz todo sentido, há muitas coisas que as mulheres se sentem mais à vontade de falar com mulheres que, faz todo sentido, como há homens que tem mais à vontade de falar com homens, portanto sempre foi uma preocupação nossa.”

A formação das treinadoras é também importante e fundamental para o clube “formámos 4 treinadoras a quem pagámos o curso de treinador para que pudessem continuar connosco de forma mais ativa e com um maior grau de capacidade. Neste momento estão connosco como treinadoras principais – 2 delas foram campeãs distritais do ano passado e este ano as 2 estão na fase de apuramento para campeão, portanto foi uma aposta ganha.”

Apesar de se sentir ainda algum ceticismo em torno do futebol feminino, o clube não desiste de procurar profissionais que vão ao encontro dos valores esperados “continuamos a tentar procurar treinadoras mulheres para fazer parte do nosso projeto porque acreditamos que também faz falta ao futebol – que existam mais mulheres a fazer parte do processo.”, confessou Manuel Antunes.

Por mais sucesso que a academia tenha, há sempre dificuldades neste tipo de projetos. As principais passam, na grande maioria, pela dificuldade de apoios – não há muitos apoios das empresas e, portanto, acaba sempre por haver pouca facilidade em ter material, por exemplo, também na organização do clube devido à falta de “pessoal” envolvido nesta iniciativa. O coordenador, Manuel Antunes deixa ainda um apelo: “A verdade é que a associação de futebol tem que dar mais atenção ao futebol feminino. Tem havido um grande investimento por parte da Federação no futebol feminino esperamos que passe também para as associações para depois chegarem aos clubes e para que os clubes também percebam a importância do futebol feminino – porque tem de haver igualdade de oportunidades para ambos os géneros.”

Ainda assim o clube conseguiu, este ano, alguns patrocínios de equipamentos, mas infelizmente não são suficientes para suportar as necessidades. A academia “vive” só de mensalidades que recebe dos escalões e ao contrário do que acontece na maioria dos escalões também a equipa Sénior precisa de “ajudar” o clube nesse sentido e acaba por pagar uma mensalidade – “para nós era impossível termos uma equipa sénior que não pagasse mensalidade foi a única forma de conseguirmosseguir em frente com o projeto e as jogadoras como estavam ligadas ao clube e sabem também um pouco da nossa realidade, aceitaram.”, contou-nos Manuel Antunes.

Outra preocupação são as infraestruturas que ao longo do tempo tem sido melhoradas. Numa primeira fase foi feita a renovação dos balneários, com o apoio da Câmara de Oeiras, o sintético também vai ser novo ainda este ano (2024) mas ainda assim há muito para fazer. Apesar de renovados os balneários são insuficientes, é necessário ainda construir-se uma bancada para que os pais e apoiantes das atletas possam assistir ao jogo de forma confortável e um reforço a nível de recursos humanos competentes e que vão ao encontro dos valores e da missão da academia.

A academia caminha a passos largos para a melhoria de um projeto que, pioneiro no Concelho, oferece palco a meninas e mulheres para crescer na modalidade e fazerem aquilo que mais gostam. Época após época o clube não se desfoca do seu objetivo: dar as melhores condições para a formação das atletas.

Os anos agora são outros e mais que nunca também as mulheres querem fazer parte do mundo do futebol, mas para isso é preciso mais apoios e incentivos para que estas jovens possam ver que os seus sonhos são cada vez mais reais.

 

Mafalda Teixeira.