Gira no Bairro – Uma Esquadra Aberta à Comunidade

Gira no Bairro

GIRA no bairro

A PSP de Oeiras completou 70 anos, e para além ter como missão garantir a segurança e a ordem pública têm ainda projetos que diferenciam o concelho a nível social. O projeto GIRA no bairro – uma esquadra aberta à comunidade, financiado pelo programa escolhas nona geração, nasceu há quase 5 anos e em parceria com a polícia de segurança pública tem a “sede principal” na esquadra de Caxias.

“O nosso grande objetivo é que era criar pontes entre a comunidade pela mão das crianças e jovens com a polícia de segurança pública na pessoa dos polícias que estão aqui tanto na esquadra como aqueles que vão passando e que estão em outros serviços.” – afirma Ana Santos, coordenadora e mentora do projeto.

Neste momento há 2 polícias que trabalham diretamente com a equipa do projeto que acompanham os jovens diariamente e fazem um papel de mediação e criação de pontes através de ações de sensibilização de várias temáticas importantes como: a violência no namoro, a sensibilização rodoviária ou até comportamentos de risco. Acabam ainda por ajudar noutro tipo de atividades para no fundo se aproximarem, de uma forma mais “humana”, dos miúdos para desmistificar um certo “medo” ou até uma certa distância que sentiam da PSP. Assim, os jovens vêm ter com a polícia à esquadra e normalizam a ideia dos policias serem pessoas normais que simplesmente vestem a farda, cumprem a lei e fazem cumpri-la.

A associação Mundos de papel conta com técnicos da área social, como psicólogos, por exemplo, e aquilo que tentam fazer é muito através da arte usando dinâmicas de arte terapia, mas também através do desporto chegar às crianças e criar ligações fortes com eles. E os matraquilhos são um exemplo disso “temos matraquilhos e é muito engraçado às vezes ver como um polícia e um jovem podem conversar sobre tantas coisas numa mesa de matraquilhos de uma forma mais informal e que se calhar não o fariam noutro contexto porque não havia essa procura”, conta-nos Ana Santos.

Com horário de funcionamento das 14h até às 20h todos os dias úteis, a associação funciona como um complemento depois da escola. Quando chegam, os jovens, focam-se preferencialmente em dar seguimento ao estudo depois estão sempre a decorrer atividades complementares que acabam por fortalecer competências que mais tarde também os ajudam na escola – competências cívicas, sociais, digitais, pessoais sempre através de atividades lúdicas com o objetivo de aprenderem a lidar com frustrações, saberem trabalhar em equipa, por exemplo.

O GIRA no bairro é uma iniciativa  “totalmente gratuita e nenhum jovem paga para estar no gira, porque nós acreditamos e a associação Mundos de papel tem muito esta premissa que todas as crianças deviam ter direito às oportunidades de crescimento sem ter que haver um pagamento para que sejam felizes.”, afirma Ana Santos.

As idades das crianças e jovens variam entre os 6 e os 16 anos. Atualmente em Caxias e com regularidade tem 53 jovens inscritos, o GIRA no bairro vai também realizar atividades uma vez por semana ao centro educativo padre António Oliveira, em Caxias onde tem cerca de 10 jovens com idades que poderão ir até aos 18 anos. A associação vai começar uma nova intervenção, no bairro do Pombal, em Oeiras, em parceria com a associação Pombal 21 onde vão realizar atividades complementares 2 vezes por semana – o projeto vai arrancar e tem já 30 jovens inscritos.

Todas as semanas há ainda uma atividade de nome “GIRA família” em que o objetivo é falar-se com as famílias numa ótica de acompanhamento parental onde se acompanham os jovens para tentar perceber algumas falhas ao nível de algum comportamento menos adequado. Este tipo de acompanhamento é fundamental para que o jovem possa ter um crescimento mais saudável.

Aquilo que ao início parecia ser um tiro no escuro hoje resulta num projeto único a nível mundial, não há projeto como este – que junte polícias e jovens de forma tão natural. Numa primeira fase, houve naturalmente resistências de ambas as partes, porque é normal. Porque uma esquadra, altamente protegida, receber 15 ou 20 miúdos que fogem da polícia porque talvez lhes foi dito para o fazerem ou até por medo acaba por ser estranho aos intervenientes.

Mas a verdade é que, com apenas 5 anos e sendo uma entidade pequena, a Mundos de papel já tem “colhido alguns frutos” – receberam algumas distinções, a ONU, por exemplo, considerou a iniciativa como um projeto de boas práticas ao nível de integração e da proximidade que criamos entre polícia e comunidade. Receberam ainda o selo de boas práticas por terem chamado a atenção de uma série de entidades como a Gulbenkian e outros organismos governamentais e em 2023 foram recebidos na nunciatura em Lisboa quando o Papa Francisco esteve em Portugal.

Ao longo do tempo o Gira recebe novos miúdos e outros seguem o seu caminho, vão se adaptando às mudanças que tem sido importantes e significativas: No início, por exemplo, os pais não queriam vir à esquadra, tínhamos 2/3 famílias nos nossos eventos, hoje contamos com quase 80 familiares. Temos um exemplo de um polícia que durante o seu trabalho, há uns anos atrás, acabou por deter um homem. Hoje em dia esse mesmo senhor vem muitas vezes pôr a filha ao projeto – ou seja, há aqui uma mudança necessária de pensamentos e mentalidades até por parte dos pais”, confessou Ana Santos, mentora e coordenadora do GIRA no bairro.

Mafalda Teixeira