Afinador de pianos – Ofícios antigos em tempos modernos

Afinador de pianos

Todos nós já ouvimos e disfrutámos de um pianista a tocar uma música num concerto ou até mesmo em casa na televisão enquanto bebemos um copo de vinho, mas de todas as questões que nos surgem nesses momentos a que menos pensamos é: “e se o piano se estragar?” ou até “há forma de consertar um piano?”

A resposta é simples, mais do que pensávamos. Apesar de ser uma profissão desconhecida para uma grande parte das pessoas, o afinador de pianos é quem conserta e como o nome indica afina pianos.

Estivemos à conversa com Pedro Agostinho, afinador e técnico de pianos, que nos contou a sua história e o que é ser um afinador de pianos em Portugal.

O percurso de Pedro Agostinho começou cedo, foi uma paixão que surgiu de forma quase que inevitável. Tinha apenas 9 anos quando, habituado a ver o pai trabalhar como técnico e afinador de piano, nasceu o entusiamo pela profissão e a vontade de a aprender “desde miúdo que me apaixonei por isto, desde forrar os teclados, desmanchar as mecânicas – foi sempre um entusiasmo muito grande”, conta-nos Pedro Agostinho.

E assim foi, por volta dos 17 anos, Pedro começa a trabalhar como afinador de pianos na Valentim de Carvalho e mais tarde criou a sua própria oficina, ainda ativa nos dias de hoje. Atualmente para além de ter o seu negócio próprio trabalha também a part-time na EuroMúsica devido ao volume de trabalho que existe.

Pedro nunca tirou um curso, afirma que não há melhor curso do que a prática e por acompanhar tantas vezes o pai nos seus trabalhos acabou por praticar diretamente com os instrumentos.

Neste momento o que devem estar a pensar é “Mas afinal o que é que faz um afinador de pianos?”, Pedro Agostinho explicou-nos um bocadinho: “ Um afinador de pianos faz a afinação que é colocar o som do piano, ou seja, estabilizar toda a harmonização acústica do instrumento faz também as reparações, que são trabalhos bastante demorosos, tanto podem demorar uma semana como 3 meses ou6 meses , fazemos também reconstruções que implicam encordoar o piano todo, por exemplo, a reparação interna e exterior da madeira, temos ainda de limpar cordas, lubrificar as teclas, colocar abafadores, fazemos tudo o que tenha a ver com o piano”.

Por ser uma profissão bastante especifica acaba também por ser mais complicada do que aquilo que se possa pensar “Há diferentes tipos de pianos, eles diferem na altura das
teclas, nos escapes, a profundidade da tecla, por exemplo a afinação necessita do um de
uma prática pelo menos de ano e meio a 2 anos para a audição. É também importante
termos uma estabilidade de braço e força no braço para arranjar pianos porque são pesados. E depois é um trabalho muito minucioso, é preciso ter muito gosto e muita paciência pelo trabalho, quem não tem gosto fica muito difícil de aprender–quem não
respeita o instrumento e não o percebe fica difícil”, afirma Pedro.

Habituado a ter “concorrência” desde cedo, Pedro Agostinho acredita que esta profissão
nunca vai deixar de existir “É uma profissão que vai sempre existir, não é uma coisa que
a máquina possa substituir até porque afinar o piano requer sempre mão humana. Esta
área é para um restrito número de pessoas, não é toda a gente que “precisa” de um afinador de pianos, por isso a concorrência não me afeta diretamente – porque já tenho
clientes habituais e se gostam do meu trabalho vão comentar com quem precisa.”

Atualmente existem cerca de 8 afinadores na área Metropolitana de Lisboa e a verdade é
que há muitas pessoas com vontade de apender mais sobre este ofício de vários séculos
“Eu até recebo alguns e-mails de pessoas que querem aprender, portanto eu acho que há
pessoas a querer saber mais, eu é que pessoalmente não tenho tempo para ensinar.

Infelizmente não há cursos em Portugal para aprender, mas há em Itália ou Alemanha,
são é muito dispendiosos podem chegar aos dez mil euros.”

A certeza que Pedro tem, por agora, é a continuidade do ofício na família, a passar de
gerações em gerações. Depois de aprender tudo aquilo que sabe sobre a profissão com o
seu pai, Joaquim Agostinho, Pedro vê agora o seu filho a querer seguir as suas pisadas e
“carregar” este ofício como a sendo a sua nova paixão “O meu filho Tiago vai ser a única pessoa a quem vou dar formação, ele tem me acompanhado e tem despertado a vontade de aprender, tem a energia que eu tinha quando era miúdo. Acho que encontrou uma paixão e, portanto, está tudo alinhado”, conta-nos Pedro.

Ser afinador de pianos é especial, não é como muitas profissões em que se consegue
deixar a uma sexta-feira à tarde e só voltar a “pegar”à segunda. É difícil de te desapegaresaté porque mesmo em espetáculos de lazer fica complicado de se “desligar” da sua realidade “É difícil desligar da profissão porque quandotenho de acompanhar o artista num concerto ou até mesmo num concerto em que eu vá em lazer é sempre difícil desligar porque deteto os erros e consigo perceber as coisas. Muitas das vezes, diriaque talvez 90% das vezes, não consigo ficar até ao fim.”, confessa Pedro Agostinho.