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Investigação Nacional premiada no Taguspark

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Quatro projetos desenvolvidos por investigadores do Instituto de Tecnologia Química e Biológica António Xavier (ITQB NOVA) foram premiados com um total de 200 mil euros na entrega do Fundo de Prova de Conceito InnOValley. A cerimónia teve lugar, no Taguspark, no âmbito do BIOMEET 2025, o principal encontro nacional dedicado à biotecnologia e à inovação científica.

A investigação premiada responde a desafios concretos da sociedade como a salinização do solo, o desenvolvimento de antibióticos para bactérias multirresistentes e de terapias seguras para doenças letais entre os felinos, bem como a criação de adoçantes alternativos. Cada projeto vai receber um financiamento de 50 mil euros cada, ao longo de 12 meses, acelerando desta forma a sua entrada no mercado.

Os quatro vencedores foram selecionados entre 19 candidaturas, por um painel de 11 especialistas internacionais, detentores de uma vasta experiência nas áreas de inovação, empreendedorismo e capital de risco.

Desde 2021, o programa já apoiou mais de 12 projetos que captaram mais de €250 000 em financiamento adicional de entidades como a Fundação la Caixa e o Conselho Europeu de Investigação, tendo dado origem a três pedidos de patente já registados, encontrando-se outros em fase de análise e submissão.

O Fundo de Prova de Conceito InnOValley é uma iniciativa do Município de Oeiras no âmbito da Estratégia para Ciência e Tecnologia do concelho, em parceria com institutos do ecossistema científico de Oeiras. Em 2025, o programa veio reforçar o seu alcance com a entrada de dois novos parceiros estratégicos: o INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária e o NIMSB – NOVA Institute for Medical Systems Biology, ambos sediados em Oeiras.

Os quatro premiados

O primeiro projeto, da autoria de JUAN IGNACIO VILCHEZ (ITQB NOVA), apresenta o inoculante SaltShield que tem como objetivo combater as consequências da salinização do solo, presente em cerca de 800 milhões de hectares de terras agrícolas em todo o mundo e que provoca quebras de rendimento até 50%. Em Portugal, na região do Ribatejo, mais de 12 000 hectares de terras agrícolas encontram-se salinizadas, reduzindo o rendimento das culturas em até 40% e incorrendo em mais de dois milhões de euros de perdas anuais para os pequenos agricultores. O SaltShield, seco e estável à temperatura ambiente, feito a partir de um consórcio de duas estirpes de bactérias halofílicas nativas, selecionadas pelas suas capacidades complementares, pretende melhorar a agregação do solo, sintetizar osmoprotetores naturais e modular as respostas hormonais das plantas sob stress salino. Aplicado diretamente às sementes/plântulas das culturas sem necessidade de cadeia de frio, o SaltShield aproveita as funções microbianas para restaurar a saúde do solo e manter a produtividade das culturas em campos afetados pela salinidade, oferecendo uma solução biotecnológica rentável e escalável que salvaguarda a segurança alimentar e os meios de subsistência dos agricultores.

Assinado por MARIA MIRAGAIA, do ITQB NOVA, o segundo projeto premiado é um novo antibiótico à base de metais. As Enterobacteriaceae multirresistentes (MDRE) constituem uma ameaça crescente à saúde global, devido à sua capacidade de resistir à maioria dos antibióticos, bloqueando a sua entrada ou expulsando-os antes de atingirem o seu alvo. Este novo antibiótico foi desenhado para contornar estes mecanismos de resistência e reduzir o risco de emergência de novas resistências. Com o apoio do PoC (2.ª- edição), foi possível obter resultados in vitro promissores, demonstrando o potencial deste composto como tratamento contra bactérias Gram-negativas multirresistentes. Pretende-se aproximar a tecnologia da aplicação clínica e atrair parcerias industriais para o desenvolvimento e comercialização desta inovação.

O terceiro prémio foi atribuído a uma nova terapia para combater a peritonite infeciosa felina (PIF), uma doença letal causada pelo coronavírus felino (FCoV), para a qual não existem vacinas nem tratamentos amplamente aprovados. O projeto, liderado por MARGARIDA SARAMAGO, do ITQB NOVA, propõe desenvolver antivirais otimizados dirigidos à nsp14 do FCoV. Esta enzima viral é altamente conservada e considerada um alvo farmacológico viável, cuja inibição bloqueia a replicação viral. Pretende-se otimizar derivados, através de desenho racional de fármacos, avaliar a sua atividade antiviral em células felinas e explorar efeitos sinérgicos com análogos de nucleósidos.

A última investigação distinguida em Oeiras, liderada por LÍGIA MARTINS, do ITQB NOVA, é um adoçante saudável e sustentável. O mercado de adoçantes está a evoluir rapidamente, impulsionado pela crescente procura por alternativas mais saudáveis aos açúcares convencionais. Este projeto propõe uma plataforma biocatalítica inovadora baseada em oxidases de piranose, enzimas capazes de oxidar seletivamente posições específicas em açúcares. Diferentemente dos processos baseados em epimerases, limitados pelo equilíbrio e baixa conversão, esta abordagem permite maiores eficiências sob condições suaves. Foi já validada uma prova de conceito para a produção de D-alose, tendo sido submetida uma patente. Esta tecnologia estabelece um novo paradigma para a síntese de açúcares raros, aliando a precisão da biocatálise à química verde, com impacto direto na produção industrial de adoçantes saudáveis e soluções biofabricadas sustentáveis.

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