Nádia Almeida: «Nunca pensei que um dia seria a melhor do mundo»

Nádia Almeida voou para a medalha de ouro no Mundial de Aeróbica DR
A fiel imagem de felicidade da nossa campeã do Mundo de Itália DR

Almeida e Comaneci têm dois pontos em comum, o nome Nádia e títulos mundiais. A nossa Nádia, a Nádia do UR Dafundo, aos 17 anos ainda vai nos primeiros passos da carreira, a léguas do passado impagável da campioníssima romena, mas uma coisa é certa, tem uma vontade indomável e um orgulho tremendo pelo título mundial de juniores conquistado no passado domingo na cidade italiana de Pesaro.

Sportinguista de coração, estudante do 12.º ano na área de Ciências, filha de desportistas e irmã de Tânia Almeida, outra internacional de aeróbica, a Campeã do Mundo Portuguesa bateu, sensacionalmente, a concorrência de 73 ginastas e trouxe na bagagem a medalha de ouro, conquistada a pulso e depois de vários meses de altas doses de trabalho.

Nádia Almeida voou para a medalha de ouro no Mundial de Aeróbica DR

– É campeã nacional e distrital, seguiu-se agora o título mais alto do mundo. Qual o significado desta medalha?

– É uma sensação maravilhosa. Eu e a minha treinadora trabalhamos muito para conquistar este título mundial. Passaram alguns dias mas ainda não caí em mim. Éramos 73 ginastas eu ganhei, incrível! Nunca na vida pensei que um dia seria a melhor do mundo. Ainda não acredito que atingi este sonho.

– Como foram os momentos seguintes à conquista do título mundial?

– Recebi muitas mensagens dos meus amigos. Liguei à minha irmã e festejamos em vídeo-chamada. Foi uma experiência fora do normal, extrasensorial, não sei explicar. Foi fantástico, não esperava nada, ainda me arrepio.

– Normalmente, os ginastas têm grandes dificuldades para financiar as viagens, estágios. Qual foi a estratégia?  

– Foi muito difícil. Vendemos comida nos saraus e pouco mais… tiveram de ser meus pais a financiar a viagem.

– Houve ajuda da Federação?

– Bom, a Federação consegue ajudar os seniores, mas juniores e juvenis não… tem de ser o «pai…trocínio»

– Surgiram outras dificuldades financeiras?

– Sim, por exemplo, para os maillots ficarem mais baratos, nós compramos maillots sem brilhantes e depois somos nós que os colamos. Tem uma coisa boa… aprendemos a colar brilhantes (risos). Até levei canetas brilhantes para colá-los… (risos). Sem dúvida que precisamos de mais apoio.

Nádia Monteiro e a treinadora Bruna Coelho em momento de extrema concentração DR

– E do UR Dafundo, vêm apoios?

– A minha treinadora Bruna Coelho trabalha muito, dedica dias inteiros ao trabalho, é de uma dedicação extrema. É uma pessoa que me apoia muito, se não fosse ela era problemático.

– Bruna Coelho acumula funções UR Dafundo/Federação?

– Sim, ela ajudou-me muito em Itália, foi a pessoa mais importante na minha caminhada para o título mundial. Seria impossível alcançá-lo sem ela. Família, amigos, minhas colegas de equipa que estiveram lá. Mas, sem dúvida, que a minha treinadora é que foi a chave do meu sucesso. Merece bem que eu dê relevo a esse tema.

– Para quem foi o primeiro pensamento quando conquistou o título?

– Quando recebei a confirmação do título mundial fui a correr para a Bruna Coelho. Foi uma sensação muito forte e tinha de festejar com ela. Inesquecível! Não sei… não quero ser injusta para ninguém… estava nas nuvens…

E?

– A minha mãe também lá estava, abraçamo-nos, festejamos muito e a seguir fiz uma vídeo chamada com o meu pai e com a minha irmã. Estavam super-felizes, claro!

– Alguma vez pensou que atingiria o topo da aeróbica mundial?

– Sempre soube que seria muito difícil. Há cerca de um mês fomos a uma prova na Bulgária e eu fiquei em segundo lugar, parecia que um primeiro lugar estava para chegar e, felizmente, chegou neste Mundial. Mas não posso esquecer que os treinos foram muito difíceis.

– Onde eram realizados?

– Ficávamos aqui no Dafundo, claro, a treinar durante o verão quase todo, tivemos poucos dias de férias, foi puxado. Tive três meses de férias de escola mas de ginástica pouco ou nada mas são opções nossas, não me posso queixar.

Nádia Almeida é campeão do mundo de juniores de ginástica aeróbica DR

 

– Qual a estratégia para encontrar motivação para enfrentar tanta exigência?

– Não é fácil encontrar motivação para vir treinar quase todos os dias, fazer quilómetros e mais quilómetros, ainda mais sabendo que os meus amigos estavam de férias… Motivação? Pensar que tinha o Mundial à porta e tentar o melhor resultado de sempre que chegou.

– O nome Nadia Comaneci diz-lhe alguma coisa?

– Claro!!!!! Nadia Comaneci era a minha alcunha na ginástica artística, todos brincavam comigo chamando-me Comaneci. E gostava? Achava piada, sim. Também fiz artística mas acabei por mudar o meu caminho para aeróbica. Muita gente ainda fala de Nadia Comaneci, é um ícone do desporto mundial.

– Houve prémios monetários em Itália?

– Só medalha…

– Nem um incentivo?

– Não… acho que isso é só para os seniores. Nem para juniores nem para juvenis…

– E como conseguem pagar o material?

– Ajudas da família, comigo são os meus pais. Temos de pagar maillos, ténis, que custam à volta de 80 euros e só dão para um ano no máximo dos máximos, fora outras despesas…

– Clube ou seleção dão-vos algum subsídio?

– Não conseguem dar nada… juniores e juvenis têm de pagar alimentação viagens… nada de apoios.

– E uma mensagem para fecho de conversa? Tem destinatário?  

– Um dia vou recompensar os meus pais pelo esforço que fazem não só por mim como pela minha irmã.

«IMPORTANCIA DA AERÓBICA PARA A VIDA»

– Qual a importância da ginástica rítmica na sua vida?

– Aproveito a oportunidade para deixar um conselho. É importante as pessoas saberem qual a importância da ginástica aeróbica para a vida. Muita gente nem sabe o que é. Repare-se, ajuda-nos a crescer a nível físico enquanto pessoas. Dá-nos maturidade. Mas reconheço que é difícil conciliar a ginástica com escola, principalmente na alta competição. Mas mesmo assim tenho motivação para continuar. Desistir? Nem pensar!

«40 MINUTOS PARA CÁ, 40 MINUTOS PARA LÁ»

– Reside na Malveira, o constante ir-e-vir Malveira-Dafundo não cria saturação?

– A minha mãe faz as viagens comigo, ajuda-me muito, muito mesmo. São 40 minutos para cá e outros para lá. Estou há cinco anos no Dafundo… e antes estava no Ginásio Clube Português… sempre a fazer quilómetros. É cansativo, até estudo durante as viagens, mas como quem corre por gosto não casa…

Confiança de quem vai trazer o título mundial para o Dafundo DR

– Acaba os treinos no Dafundo a que horas?   

– Por volta das 20h30… chegou a casa às 21h30… quase nem tenho tempo para estudar em casa, em de ser nas viagens de carro… Temos de ter uma grande força de vontade. É preciso amar muito a modalidade.

– O que a move para continuar no universo da aeróbica?

– As pessoas olham para os nossos resultados, tudo ok… mas o mais importante é saberem o que custa para lá chegarmos. Se não gostasse tanto da aeróbica não me esforçava como me esforço. É por ser tão difícil que gosto tanto da aeróbica. Porquê? Não sei… é desafiante.

– De quem foi a culpa de seguir a ginástica?

– Os meus pais puseram-me na ginástica quando se percebeu que não tinha grande queda para a o ballet. A culpa terá também sido da minha irmã que começou no findgym. A Tânia mudou da ginástica artística para a aeróbica e eu fui atrás passado um ano, tinha 13 anos. Nessa altura fui ao Campeonato do Mundo no Azerbaijão mas não consegui apurar-me para a final, no segundo Mundial fui só na competição de grupo, e agora, em 2024, fui campeã do mundo individual.

– O que é a aeróbica?

– É um pouco de várias modalidades, tem a parte da dança, elementos acrobáticos, a parte da dificuldade. Temos de ter força para fazermos os elementos acrobáticos e leveza para dançar. Aeróbica é uma modalidade muito completa e fascinante.