
Carlos d’Almeida Ribeiro, 56 anos, ator, encenador e diretor do Teatro Independente de Oeiras, é o convidado de Notícias de Oeiras. Uma entrevista que serve de rampa de lançamento para a peça «O marido do meu marido», que estreia no próximo dia 18. Foi mesmo por aqui que começámos a conversa com Carlos d’Almeida Ribeiro.
– Como nasceu O Marido do meu Marido?
– A Bárbara enquanto autora e atriz desafiou-se a ela própria para escrever e resolveu desafiar-me apresentando o texto e se eu estaria interessado em faze o espetáculo. A casa é muito chegada à comédia, mas é também muito transversal a outros genéros teatrais. Fizemos o guião muito interessante. Com uma escrita muito escorreita, muito dinânica. Este é um trabalho muito íntimo, um trabalho em que somos só dois. Há muita gente que não gosta de trabalhar com autores vivos. O autor tem a sua visão da obra, a visão original. E quem pega nas suas peças tem sempre a sua visão, a originalidade.
– É complicado trabalhar com autores?
– Quando trabalhamos com autores ficamos sempre muitos mais espartilhados. Não quer dizer que tenha sido o caso, até porque esta é uma equipa muito intima. Há muita abertura. Não puxei dos galões como já fiz em outras peças. Percebi que aqui havia uma mais-valia, tendo comigo uma autora jovem e atriz. Quando trabalho com uma autora/atriz, podemos aproveitar mais do que tomar o autor ou a autora do que tomar como inimigo.
– Sente uma ponta de vaidosismo por ter atingido um patamar tão significativo no mundo do Teatro?
– Já cheguei a um ponto que não preciso de mostrar nada a ninguém, são mais de 90 produções. Com uma casa aberta ao público, com uma corrente de público, já não estou para vaidosismos, quero o melhor produto final da equipa. E gostava de sublinhar que ter a Bárbara como autora e como colega é fantástico. Permite uma série de sinergias. É uma pessoas fantástica.
«Em exibição a partir do próximo dia 18»

– Até quando vai estar em exibição «o Marido do meu marido»?
– Arranca no próximo dia 18, e vamos estar em exibição até meio de dezembro, são cerca de dois meses. A produção aqui do teatro é muito intensa, chegamos a ter cinco espetáculos em simultâneo. Até ao final do ano temos cinco produções. Criarmos públicos é o mais importante e nós vamos conseguindo, devagarinho, mas vamos conseguindo. Vivemos disso, é a nossa vida.
– Como classifica o teatro dos dias de hoje?
– Todo o teatro está vivo, muito mesmo. É extraordinário. Nós pertencemos à RTCP (Rede de Teatro e Cineteatros Portugueses) são 84 salas espalhadas pelo País, uma iniciativa da DGARTES que visa promover a circulação de pessoas de sala para sala. Se funciona? É difícil promover a circulação, os artistas olham muito para o seu umbigo. O interior do País é uma coisa fenomenal, há coisas que todos nós desconhecemos, estruturas, artistas, projetos, coisas fabulosas a acontecer, de grande valor. É fantástico, é importante as pessoas conhecerem essas salas de teatro por esse País fora.
«Somos muito requisitados»
– O TIC está bem e recomenda-se?
– Claro que sim. O TIC é uma estrutura com 35 anos, suficiente para atingir uma maioridade sólida. Temos uma corrente de público e temos uma programação fantástica. Somos sala de acolhimento a muitas estruturas que vêm do Brasil, África, Espanha… somos muito requisitados, infelizmente não conseguimos dar resposta a cerca de 98% dos pedidos que nos fazem.
– A sério?
– A sério!
– Estivemos 12 anos no Auditório Eunice Munoz, com uma guarda-partilhada entre nós e a Câmara de Oeiras. Isaltino Morais percebeu que ou nos dava mais condições ou perdia uma oportunidade de ter alguém em Oeiras que iria colocar o concelho no mapa do Teatro português.
«Isaltino Morais teve percepção»
– Como e onde começou o sonho do TIC?
– Começamos com um grupo de teatro amador, tornámo-nos profissionais, mas Isaltino teve a perceção que teria alguém que se tornaria parceiro de excelência. Somos entendidos na autarquia como embaixadores de Teatro em Oeiras. Somos mais estrutura, com mais público, com mais produção, visibilidade e notariedade. Hoje, somos uma estrutura respeitável. Somos muito falados. Isso enche-nos de orgulho.
– A comédia puxa muito público?
– Ainda temos o estigma da comédia, sem dúvida. Cada vez vamos avançando mais para outros estilo mas estamos sempre assentes na comédia. Os decisores de Oeiras tivera a capacidade de reconhecer isso. É bom para todos, todos ficamos a ganhar.
«Temos assistências na ordem dos 99%»
– Orgulhoso por terem participado no crescimento do Teatro em Oeiras?
– Nós estamos no meio de dois grandes pólos, Lisboa e Cascais. Oeiras, no aspeto teatral, era um deserto. Nós tivemos a capacidade de colocar Oeiras no mapa do teatro. Fazemos inquéritos ao nosso público para sabermos quem vem ao Teatro. É um estudo e mercado e os resultados têm sido fantásticos!
– Qual é a média de ocupação das salas?
– Até março de cada ano fazemos um estudo dessa matéria. Temos assistências na ordem dos 99%. Nunca temos casas abaixo dos 50% e a maioria anda à volta dos 70%, 80%. São números muito bons. «Diário de Pilar na Amazónia», coprodução com o movimento carioca, tem esgotado sempre. Temos o H2M1, que está há 12 anos em cena, quase sempre esgotado. São fenómenos de popularidade, tivemos o «Fim-de-semana sem filhos» sempre esgotado. Temos tido casos muito bons, as coisas estão a correr bem. É um orgulho poder dar trabalho a uma equipa permanentemente!
– Quantas pessoas trabalham no TIC?
– Por ano damos emprego a 300 pessoas, fixos somos 16, o que é muito bom, vamos rodando pessoal, desde agentes de sala, a atores, entre outros. Temos uma ligação muito forte às comunidades formativas, às universidades. Concedemos estágios escolares.
«Musical sobre o 25 de Abril foi um êxito»
– O musical sobre o 25 de Abril foi um êxito. Para quando está previsto o regresso?
– O musical sobre o 25 de abril estreia dia 2 de novembro. Na primeira temporada não correu nada mal. O espetáculo é muito emotivo. Atrevo-me a considerá-lo um dos três/quatro mais bonitos enquanto encenador. Os adultos deixaram a sala muito emocionados. Das minhas 70 e tal produções tive algumas extraordinárias, destaco esta peça sobre o 25 abril. Foi maravilhosa.
– Como tem sido os papéis dos parceiros do TIO?
– Fantástico! Temos de estar gratos e reconhecidos aos parceiros. Esta humildade fez com que os próprios parceiros olhassem para nós de maneira diferente. Nós somos gratos, percebemos a importância da autarquia e não só… temos conseguido captar o apoios de hotéis, rent-a-car… aliás, no nosso site temos um mural de apoios muitos importantes. Temos estabelecido algumas parcerias com empresas. Por exemplo, antes éramos nós que procurávamos o apoio junto de empresas hoje tem ido o contrário. Hoje somos cinco na produção. Aliás, caem mails todos os dias a solicitar parcerias, por exemplo, a PSP já nos contactou… e são milhares de polícias. Desde 2016 tivemos três «booms» que nos deram maior visibilidade, temos de consolidar o crescimento. O Teatro de Oeiras tem todas as condições para continuar a crescer, menos na sala, as paredes não esticam… não é que já não merecêssemos…
– E o futuro do Carlos d’Almeida Ribeiro no teatro, vai até onde?
– Queremos solidificar o crescimento e quem vier a seguir a mim que faça um bom trabalho que estou a ficar velho e cansado… (sorrisos) esta é uma casa que me dá muito gozo mas também muito trabalho, ocupa-me 48 horas por dia… dizem que quem corre por gosto não cansa mas comigo é o contrário, cansa e não é pouco. É engraçado como o teatro me deu tudo e que ao fim de tantos anos me está a tirar tanta coisa…

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Sinópse de «O marido do meu marido»
A peça é a história de um casal e como um terceiro elemento pode prejudicar a vida amorosa deles. A ideia é que a peça cone as coisas com o maior realismo possível para que o público sinta empatia e que ajude à reflexão na sua vida. São um casal muito apaixonado mas que mais tarde as coisas vão azedando. Quando a Natália descobre que existe uma terceira pessoa na relação…
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Natália, a mulher de Nélson
Bárbara Meirelles é Natália na peça «O marido do meu marido». Quem é a rapariga que veste a pele da mulher de Nélson e como chegou ao mundo do teatro português?
– Eu trabalhava numa produtora de televisão e uma atriz, a Estrela Novais que morreu há pouco tempo, falou comigo. Perguntei-lhe como teria hipótese de vir para o teatro. Estrela falou-me do Teatro Independente de Oeiras e eu nem olhei para trás. Consegui o contacto do Carlos e falei com ele. Trabalhei com ele no H2M1. Foi muito interesse este contacto com o teatro. Tempo depois apresentei esta minha peça ao Carlos. Este teatro tem uma energia muito boa, é bem gerido, gosto muito de aqui estar. Aqui sou feliz!