Contar a história de um clube como a do Grupo Desportivo Unidos Caxienses pode
parecer tarefa fácil para uns. Para mim, contar a sua história foi das coisas mais difíceis
de fazer, não só por ser um clube antigo, mas porque é difícil descrever o que foi e o que
é ser do Caxienses.
O Grupo Desportivo Unidos Caxienses nasceu há 94 anos, foi criado por 3 amigos de Caxias e tinha como objetivo o de ocupar os tempos livres com ensaios musicais, na
altura chamava-se Grupo Musical Unidos Caxienses. Com o passar dos anos e com o
crescimento da coletividade, o clube, que já tinha cerca de 30 associados, decidiu
expandir não só as suas instalações como também o tipo de atividades que praticavam.
Nesse sentido, foi construída, no local onde se encontra nos dias de hoje, a atual Sede
com a ajuda de associados e pessoas locais. Em 1987, o clube passou a ser designado
por Grupo Desportivo Unidos Caxienses promovendo desta forma desportos como o
Hóquei, Atletismo, Futsal ou até a Pesca.
Os anos foram passando e a coletividade manteve-se sempre “de pé”, até à data é o
único clube desportivo que existe na zona de Caxias. No entanto, os últimos anos não
foram fáceis e foi precisamente por isso, pela instabilidade face à continuidade do clube,
que a atual direção tomou posse dos Caxienses e não deixou “morrer” um projeto tão
antigo e acarinhado pelos habitantes da zona. “Começamos a perceber que o clube
estava numa encruzilhada, em que podia mesmo deixar de existir. Estamos cá desde
2013, é o clube da minha zona, costumamos dizer que fomos nascidos e criados aqui,
então como filhos da terra começamos a renascer o clube”, conta-nos Jorge Simão, atual
Presidente do GDUC.
Os primeiros tempos foram complicados, na altura o clube não estava bem visto a nível
oficial, estava praticamente fechado a todas as organizações. Mas com dedicação e
vontade as coisas foram aos poucos ganhando forma “tivemos de mostrar trabalho, a
Câmara principalmente e a junta só apoiam os clubes que merecem ser apoiados e por
isso tivemos de limpar o nome do clube”, afirma Jorge Simão.
E foi assim, com muito trabalho e paciência, que em 2023 se concretizou um sonho há
muito desejado – a construção de um pavilhão polidesportivo. Era um sonho de 40 anos
muito ansiado pelos atletas, que em tempos jogavam no cimento sem cobertura, pelos
dirigentes, que como ex-atletas querem dar as melhores condições aos jovens e pelos
habitantes locais, que por orgulho veem-se representados pelo clube da terra. “No dia da
inauguração do pavilhão aquilo que mais me marcou foi ver a felicidade dos miúdos no
primeiro treino, miúdos que já estão cá há 3 anos, que jogaram no cimento, comoveu-
nos e é para isto que nós trabalhamos”.
Apesar de ser um clube “pequeno” e de bairro, o GDUC têm muito património –tem
várias salas para os sócios, uma sala própria para o snooker e uma sala de troféus, que
recebem torneios de snooker e sueca para os associados, um primeiro andar destinado
aos desportos de combate, um pátio exterior para festas e convívios e a “aquisição” mais
recente, o pavilhão.
Atualmente, a nível desportivo o clube conta com cerca de 300 crianças e jovens no
futsal, com destaque para a equipa feminina que é a única equipa sénior do clube, sendo uma das poucas equipas femininas do concelho já com alguns anos de existência. Na
ginástica e ginástica desportiva tem 80 e 30 inscritos, respetivamente, e no karaté cerca
de 60 crianças. No início deste ano, a coletividade apostou numa nova modalidade de
combate – o kickboxing e já tem cerca de 10 inscritos desde crianças a adultos.
No entanto, e num clube como o Caxienses, existem dificuldades e essas são,
naturalmente, a nível monetário. Por mais ideias que se tenham e mesmo com a força de
vontade necessária para se fazer mais e diferente, as coisas acabam por se complicar
pela falta de dinheiro. Com o crescimento alcançado ao longo dos anos, o clube acaba
por ter mais obrigações e responsabilidades, seja com as federações no policiamento,
por exemplo, ou com as instalações em termos de condições de segurança. No entanto,
o Presidente relembra “Temos muito apoio da Câmara de Oeiras e da Junta de freguesia
de Caxias, se não fossem esses apoios era impossível sobreviver”, afirma Jorge
Simão.
Para além do apoio fundamental das entidades locais, a grande força é sempre a dos
sócios, porque um clube com sócios é um clube com história. Desde pessoas da terra a
pais de atletas, o GDUC conta já com cerca de 350 associados. Depois da construção do
pavilhão houve quem se tivesse feito sócio pela primeira vez, mas muitos, que há
tempos estavam afastados, retornaram a uma casa que veem agora ter o “rumo” certo.
Num futuro próximo os objetivos passam por consolidar o caminho que se tem feito até
aos dias de hoje, dar as melhores condições a todos os atletas para que estes possam ser
apenas felizes a representar o clube. No futsal, um passo importante que querem ver
acontecer, já na próxima época, é ter uma equipa de seniores masculinos, mas com a
particularidade de ser formada maioritariamente por ex-atletas “O Caxienses é isso
mesmo é retornar a casa, muitos miúdos que passaram por cá querem voltar e já são
séniores queremos que a nossa equipa sénior seja constituída maioritariamente por
rapazes que já estiverem cá, porque para nós significa muito, porque jogaram no
cimento e sabem o que é ser Caxiense.”
Com as bases assentes no fair play e no respeito, a mensagem que se passa e que fica é a
ideia de “não é só ensiná-los a jogar à bola é ensiná-los também a respeitar o próximo,
no mundo atual em que vivemos, no deporto onde parece que vale tudo – nós queremos
marcar pela positiva esses miúdos, porque os miúdos de hoje vão ser os homens e as
mulheres de amanhã”, relembra Jorge Simão.
O Grupo Desportivo Unidos Caxienses é visto como o clube da terra porque é um clube
de todos, com raízes num bairro social, é quase como que um íman que faz unir pessoas
de todo o tipo, porque ali somos todos iguais e toda a gente se conhece. Só quem passa
pelo GDUC é que consegue sentir isto, porque pertencer ao Caxienses não é apenas
pertencer a um clube, é muito mais que isso, é como se fizéssemos parte de uma grande
família.