
A «Espaço» é ponto de paragem obrigatória em Algés. É a livraria mais antiga do Concelho e convida o visitante/cliente a viajar por páginas e mais páginas de imaginação… Nasceu há mais de 60 anos e recebeu há poucos meses o reconhecimento de loja histórica, decisão aprovada por unanimidade em reunião de câmara. Elsa, Marisa e Liliana são as responsáveis da Livraria que vive há seis décadas na Av. dos Combatentes da Grande Guerra e tem como vizinho da frente o centenário Sport Algés e Dafundo. NOTÍCIAS DE OEIRAS entabulou animada conversa com Elsa, profunda conhecedora da Livraria fundada pelos pais.
– Como nasceu a Espaço?
– A Livraria foi fundada há 60 anos e nesse nesse tempo Livraria e Galeria de Arte. Claro que era uma coisa pioneira, senão uma aventura, num meio pequeno, nos arredores de Lisboa, como era Algés. Mas os nossos pais gostavam muito de livros e de arte, e realizaram um sonho, que foi sendo partilhado por todos quantos frequentavam o espaço, e ainda hoje o frequentam, e os seus filhos e netos. E quem regressa de longe, vem periodicamente e desce as escadas à cave com nostalgia. A cave, escondida, muito conveniente noutros tempos, por isso um ponto fácil de encontros, de conversas a medo, onde se vendiam livros proibidos, fora da vista, por baixo do balcão, onde por vezes os censores da PIDE e os encontravam e levavam, «aos montes», para queimar a liberdade.
– Como foram os primeiros anos da Espaço?
– Nos anos 70, passa a ser Livraria e Papelaria, e tinha uma discoteca em parceria com a Valentim de Carvalho, sempre a inovar, para a livraria subsistir apoiada nessas atividades. Para nós, a segunda geração, a livraria era a segunda casa, porque habitávamos na mesma rua a poucos metros, e andávamos a saltitar entre os livros e os materiais escolares, até começarmos a ter idade para ajudar quando era preciso.
– O falecimento da vossa mãe mudou a vossa vida?
– A nossa mãe faleceu muito cedo, no início dos anos 80, e isso precipitou a vinda das duas filhas mais velhas, ainda estudantes, para a livraria. Foram períodos muito difíceis, ainda agravados pela situação econômica de austeridade do país.
– Foi difícil ultrapassar esta fase?
– Tentámos sobreviver: Fizemos feiras do livro nas escolas, e fomos fornecedores das suas bibliotecas; convidámos turmas de escolas da localidade para visitar a livraria. Nos anos 90 já éramos 3 filhas a trabalhar na Livraria, e fomos diversificando as actividades com a comunidade, para chegar a mais pessoas: Horas do conto aos sábados de manhã, apresentação de livros, e peças de teatro, conversas e montras temáticas, feira do livro na livraria, etc.
– E foram crescendo…
– Sim, nas décadas seguintes, fomos juntando várias outras atividades, como um clube de leitura, escrita criativa, clube de tricot/crochê, aulas de desenho, workshop de fotografia, caminhadas com bookcrossing, troca de livros, livros em segunda mão. Criamos um grupo de Facebook «algés acontece», e construímos um site (lpespaco.pt). No ano passado solicitámos ao município o reconhecimento de loja histórica, decisão aprovada por unanimidade em reunião de câmara. Ficámos muito

felizes, claro!
– Seguiu-se uma homenagem muito especial… Certo?
– Sim, em janeiro último, recebemos a Homenagem Profissional do ano do Rotary Club de Algés, pela capacidade de unir passado e futuro e inspirar a comunidade refletindo o valor da inovação como motor de desenvolvimento cultural e social. Onde há uma livraria, há um mundo a descobrir, e os algesinos têm uma há 60 anos, porque acarinharam, participaram e sustentaram o nosso espaço,como uma grande família, e ainda hoje, basta alguém dizer: «Estamos na Espaço», e é um ponto de encontro, com sorrisos e abraços como se estivessem em casa de amigos.
– Como recorda o pai e fundador Armando Rodrigues?
– Nosso pai, que faleceu com 93 anos, dizia que tinha muito orgulho das filhas e que eram umas heroínas, porque as livrarias do seu tempo estavam todas já fechadas. Continuamos! Ainda estamos aqui!