Nuno Santos: «Procuro deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrei»

Nuno Santos abraçou o mundo das artes marciais aos seis anos DR

Nuno Santos, 47 anos. Confesso admirador de artes marciais arranca quarta-feira (18/9) para um novo desafio num espaço localizado nos Bombeiros de Carnaxide. Shin Gi Tai Kempo é o «irmão» mais velho que vive em Pirescoxe e tem mostrado sinais de vitalidade. Nuno Santos optou há 17 anos, pelo Kempo após passagens pelo Judo, Kung Fu e Mauy Thai.

– Como começou a história de Nuno Santos no mundo das artes marciais?

– Pratico artes marciais há 26 anos, iniciei-me no Judo e durante 6 anos fiz competição, tendo estado em quatro regionais. Fiz breves passagens pelo Karaté (seis meses), Kung fu (um ano) e Muay Thai (dois anos) cheguei a preparar-me para um regional, mas uma lesão a última da hora, colocou-me fora do regional.

– A iniciação no kempo foi complicada?

– Foi há 17 anos. Em simultâneo tive oportunidade de praticar outras artes marciais, tais como o Jujutsu (quatro anos); Kyusho (um ano); Kokoro SD (oito anos) e FMA’s (14 anos). Fiz breves experiências em outras artes marciais, mas nada sério.

– E quem é Nuno Santos no mundo das artes marciais?

–  Sou o representante nacional do Shin Gi Tai Kempo e Co-representante nacional do Kokoro Self Defense (um sistema em que consiste numa mescla de artes como o Silat, Muay Thai, FMA’s e Yawara Jitsu). Sou treinador de nível 1, federado e reconhecido pela Federação Portuguesa Lohan Tao Kempo e pelo Instituto Português do Desporto e Juventude, como tal estou devidamente autorizado a ensinar Kempo. Ensinei durante um ano, depois devido a um acidente grave tive de parar, regressei há dois anos e sinto-me muito bem e com muita vontade de continuar.

– E quem são os seus mestres?

– Estão todos fora de Portugal, o que me leva a viajar com alguma regularidade para continuar a evoluir e aprender. No Shin Gi Tai Kempo é o Sijo Daniel Hayen de Bruxelas; no Kokoro SD é o Mestre Eliakim Silva de Sevilha e nas FMA’s vou treinar com um amigo, Noé Navarro a Toledo. Por vezes, acompanho os seus seminários em outros locais e quando assim é convido os meus alunos, da classe de adultos se querem acompanhar-me.

– Voltando ao kempo, é uma modalidade de aprendizagem fácil?

– Bom, não é complicado, depois de se compreender a base, conceitos e princípios, torna-se fácil. As pessoas aderem ao kempo, principalmente porque, infelizmente, há cada vez mais violência, em todo o lado, na escola, no trabalho, na rua… existe um ditado popular japonês que diz «mais vale um samurai num jardim, que um jardineiro numa batalha», acho que aqui se aplica o mesmo.

– Qual a razão para arrancar com o projeto em Carnaxide?

– Através de um amigo que é sócio da Associação dos Bombeiros Voluntários de Carnaxide. Ele acha e eu concordo, que na sociedade atual é necessário sabermos autoproteger-nos. Com a prática regular existe um aumento da autoestima e da autoconfiança e isso é muito positivo! Como tal, o meu amigo disse-me vai lá e fala. Assim fiz, e desde o primeiro instante, tive apoio por parte quer da direção, quer do comando aqui dos bombeiros. Julgo que também concordam.

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– Há diferenças no kempo?

– Sim, as diferença entre aquilo que eu faço e partilho com os meus alunos e o Kempo desportivo é simples. No Kempo desportivo, além de existirem regras, tatami… acima de tudo o adversário está à nossa frente. Naquilo que faço e partilho o maior adversário é ele mesmo! É a si mesmo que se tem de superar, que tem de enfrentar, cada obstáculo é si próprio que se desafia a si mesmo… tal como na nossa vida.

– Existe alta competição no universo kempo?

– Sim existe alta competição, existem campeonatos do mundo e da Europa.

– E qual é o número de praticantes em Portugal?

– Não sei dar números certos mas somos muitos, estamos espalhados por todo o território nacional, principalmente na vertente desportiva.

– Há clubes dos chamados grandes que tenha seção de Kempo?

– Sim, o Sporting tem Kempo Desportivo e o treinador deles, Nuno Silva, é uma pessoa cinco estrelas. Tem feito um bom trabalho.

– Quais os seus grandes objetivos no kempo?

– Preocupo-me muito com o bullying na escola, no trabalho, em todo o lado… Além disso, procuro deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrei, e, portanto, trabalho muito no sentido da formação humana. Se trabalhar esta parte, considero que iremos ter ser humanos mais confiantes, com maior autoestima, mais calmos e serenos, permitindo ser melhores pessoas e até mesmo altruístas, olhando para os outros de forma e com o intuito de auxiliar o próximo. Isso para mim é o mais importante!

– Em quantas variáveis se divide o kempo?

– Em três variáveis, a tradicional, a desportiva e a moderna. Raras são as escolas que fazem apenas e só uma delas, existem mas são raras, normalmente combinam duas vertentes a tradicional/desportiva ou a tradicional/moderna que é o nosso caso. Respeitamos uma linhagem e suas origens, mas também nos adaptamos ao presente, até porque o nosso Shin Gi Tai Kempo nos permite essa mescla.

SIGNIFICADO DA FRASE SHIN GI TAI

Shin significa mente, coração, espírito. Gi quer dizer técnica, arte. Tai significa corpo, físico, postura. Primeiro a mente, depois a técnica e depois o corpo.

HISTÓRIA DO KEMPO NO MUNDO

O kempo, traduzindo para português Lei do punho, surge na China com o nome de Quan Fa, o que era uma mescla de vários estilos chineses da época, estamos a falar de há mais de 800 anos. Devido ao comércio e às guerras, espalha-se um pouco por todo o leste asiático, inclusive onde hoje é Okinawa, na altura reino Ryukyu, em que os nativos deste reino, mesclaram o Quan Fa com a arte nativa (tode ou te), o que significa a mão chinesa. Com a invasão japonesa e o anexar deste território ao Japão, era impossível ficar este nome e então, julga-se que é pela primeira vez é usado o termo Kempo.

Devido à proximidade com o Hawaii, e o facto de o Hawaii ter várias comunidades (japonesa, chinesa entre outras), além das suas artes nativas (Lua), surgem mestres tanto japoneses como chineses a ensinar as suas artes, isto um pouco antes da 2.ª Guerra Mundial e no após, viram necessidade de mudar um pouco e surge em força o Kempo, já mesclado com as artes nativas, e daí para o resto do mundo foi um instante e hoje é praticado, em todo o mundo.

O QUE É O KEMPO?

O Kempo é um conjunto de técnicas de combate ancestrais, aplicadas aos tempos modernos. Esta frase é de um «irmão», mas que realmente descreve sucintamente e poeticamente o que é o Kempo.

As artes marciais são algo dinâmico e que têm um processo evolutivo, ao longo do tempo. O Kempo é exatamente isso, uma arte eclética que busca a conciliação nas mais diversas artes e sistemas de luta que constituíram o seu percurso, até a este momento, permitindo no entanto, a liberdade de escolha sobre aquilo que se julga melhor, sem haver obrigatoriamente o apego a um determinado estilo, reunindo os melhores elementos dos diversos sistemas ou artes que, quando estes são conciliáveis, torna o Kempo uma arte marcial multicultural e multidisciplinar e que, se encontra em constante evolução. «Tem princípio, mas não tem fim!»